domingo, 29 de janeiro de 2017

Nota de leitura

Vila-Matas, Henrique. O mal de Montano.
Tradução: Celso Mauro Paciornik.
São Paulo : Cosac Naify, 2005. 328p.

Fazia tempo que um livro não me desafiava e não me fascinava tanto quanto este romance de Vila-Matas.
Trata-se de um jogo sofisticado (me lembrou muitas vezes o xadrez), que requer toda a nossa experiência de leitura e um gosto pela arte literária, pela invenção do texto ficcional, pela apreciação do romance não como narrativa de acontecimentos, mas como invenção de mundos por meio de palavras.
O texto é um labirinto cujas galerias se comunicam entre si, mas as passagens que as ligam são etéreas e se desfazem com frequência, de modo que o leitor fica perdido no meio de vozes (Pessoa? Borges? Kafka? Calvino? Proust? Saramago? Shakespeare? Hugo? Dumas? Pavese...?). Ouvimos ecos de leituras antigas, que a tradução competente de Celso Mauro Paciornik conseguiu manter do texto original.
Outro aspecto que me fascina no livro é exatamente o desafio que ele parece tentar vencer no sentido de criar literatura em meio à barafunda geral que é o mundo contemporâneo, resultado das infinitas tradições que herdamos do passado e que se fundem no nosso tempo, de modo que o escritor parece, como lembrou Kafka, estar sempre escavando "no fosso de Babel", sem muita esperança de encontrar algo de novo com que acenar para os seus leitores: parece que tudo já foi inventado e dito.
Achei fascinantes as copiosas citações e referências (sabendo que algumas delas são ficcionais). Fiz uma enormidade de anotações às margens e, nos intervalos da leitura e agora, passei a investigar partes do labirinto que para mim soaram inteiramente desconhecidas.
Apesar de momentos de confronto e de tensão, eu diria, entre escritor e leitor, a leitura de "O mal Montano" foi, para mim, quase uma vivência de literatura, não tanto quanto à forma literária, mas quanto às transformações da relação que se estabelece entre o criador e o leitor, por meio dessa realidade inteiramente inventada que é a narrativa ficcional ou o romance.
Creio que é um livro para leitores exigentes e com um repertório considerável de leitura. Por isso, aproveitando um conselho de Jorge Luiz Borges, se a primeira leitura assustar, é bom largar e voltar ao livro uns anos mais tarde.
 

5 comentários:

Anônimo disse...

O medo e' o intuito primordial se os perseguidos não futurismo, o instinto te faz o resultado da medida do medo qual medo o da verdade ou da morte

Anônimo disse...

Onde um poeta nevralgico se incumbe da bestialialidade dos ignorantes ou do seu inospito habitaculo reticente?

Anônimo disse...

Qualquer sinonimato requer argumento nem todas as definicoes sao definitivas o arcaico leva a proa todo o mar porem terra a vista va que tem algo novo??

Anônimo disse...

Antes do porem existe o algures

Anônimo disse...

Admirei esse sistema de pois ionamento um tipo de salvaguarda quando nos não temos nada optamos pela informática ou um tipo de calentamento oferecido pelo poder midiático maternidade postissa