sábado, 29 de novembro de 2008

"Os palhaços"

Foi lançado na última quarta-feira o texto teatral de Miraci Dereti que, por censura verbal, não pôde ir à cena na Lyra em 1968.

Trata-se de Os palhaços, que Cristóvão Petry organizou e publicou com o apoio do Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura.

Além da peça de Miraci Dereti, transcrita a partir de dois textos originais com anotações do autor realizadas provavelmente durante os ensaios, o livro traz um estudo do próprio Cristóvão Petry sobre a censura e sobre o contexto em que Os palhaços foi censurada, trazendo à tona algumas borbulhas da história do nosso teatro nos anos 60-70. Lendo-o, deu vontade de partir para uma pesquisa séria a respeito do período e das razões pelas quais nosso teatro simplemente desapareceu no início dos anos 1970. (Somente nos últimos anos dessa década é que voltaram a surgir iniciativas mais consistentes de ocupação da cena, seguidas pela efervescência ocorrida na primeira metade dos anos 80.)

O tema taí. Sei que há pessoas mexendo com ele. Um dia precisaremos tramar todos os fios.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Coincidência.

Acabo de ver Ensaio sobre a cegueira ("Blindness"), de Fernando Meirelles, construído a partir do livro de Saramago.

Deixei o cinema com o espírito perturbado, quase da mesma forma como quando terminei de ler o livro, na noite de 3 de dezembro de 1995.

Hoje não é 3 de dezembro e também não será pelo filme que faço este registro - é mera coincidência, mas a data precisa ficar marcada em algum lugar: minha vida, a partir de hoje, será outra, sutilmente outra, encarada com um olhar mais inquieto e solitário, porém mais lúcido e banhado de realidade. Pelo menos por uns anos.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Carta aberta ao prefeito eleito de Joinville

Caro Carlito:

1

Amenizada, enfim, a euforia destes primeiros dias da vitória, venho cumprimentar-te pela escolha que 62,15% dos joinvilenses fizeram do teu nome para seu prefeito – o que já sabíamos que haveria de acontecer mais cedo ou mais tarde, tanto por tuas idéias e por tua atuação parlamentar, quanto pelos apoios e pela confiança que vieste cumulativamente agregando ao longo dos anos.

Foste assim escolhido para inaugurar uma nova etapa na história da cidade, cujos destinos têm sido marcados preponderantemente pelos interesses dos grandes empresários da indústria e do comércio. Parece haver chegado a vez também dos trabalhadores, dos agricultores, dos pequenos empresários, do setor de serviços, dos agentes culturais, dos professores – da população, afinal, também dizer que destino quer ter.

Sabemos que os bons frutos de qualquer mudança só podem ser alcançados a médio e longo prazos, com a devida persistência e com a generosa paciência nascida da compreensão de que, como sociedade, precisamos ainda aprender a gestão coletiva. Esta paciência e compreensão tu tens e eu confio no futuro de Joinville.

2

Acaba de chegar ao meu conhecimento a informação sobre a existência de um abaixo-assinado propondo meu nome para a presidência da Fundação Cultural. Já há dias tomei conhecimento de referências no mesmo sentido, publicadas em colunas sociais e no blog de um comunicador da cidade, também teatreiro e amigo meu, Robson da Conceição.

Realmente, sondado sobre uma possível indicação para presidir a FCJ, deixei claro que o meu interesse é o mesmo de qualquer cidadão atuante e preocupado com a nova gestão. Porém, se, por um lado, me disponho a assumir o compromisso caso seja convidado, por outro, tenho plena clareza de que a composição do quadro deve responder a interesses estratégicos, visando a efetivação do plano de governo.

Portanto, gostaria de dizer-te explicitamente: na minha opinião, tu és livre para adotar critérios de escolha que consideres importantes para o futuro da gestão. De minha parte, saberei compreender e defender, se preciso for, as tuas decisões.

3

A movimentação que está acontecendo no âmbito da cultura encontra correspondentes em outros campos e me parece bastante positiva: reflete desejo de participação.

Senti-me lisonjeado em saber que pessoas me indicaram para o cargo e este sentimento também me despertou um senso de responsabilidade diferente: fez-me entender que já somos governo, que as decisões já começam a depender de nós, que há interesses a serem considerados na tomada dessas decisões.

A partir disso, a consideração mais importante que tenho a fazer-te é a seguinte: onde quer que eu esteja (dentro ou fora da administração, no Ielusc ou na minha produção pessoal, em Joinville ou fora dela), a municipalidade poderá contar com uma disponibilidade da minha parte que não fui capaz de oferecer às outras administrações: agora entendo o projeto; agora sei onde queremos chegar; faço parte do sonho – não necessariamente como funcionário do município, mas como cidadão.

Torço, assim, para que não venham a ser tão difíceis as tuas escolhas na composição do governo e no processo de transição. Darei toda colaboração possível ao futuro Presidente da FCJ e, enquanto cidadão, atuarei dentro de todas as minhas possibilidades como um defensor do plano Joinville para toda a sua gente.

Grande abraço!

Borges de Garuva