quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Ponderação do Samuca

O jornalista Samuel Lima fez o comentário abaixo à resposta que Apolitário Ternes deu à minha Carta aberta.

Pela precisão e qualidade do texto, achei que devia republicá-lo aqui.

Caro Borges,

A resposta do Sr. Apolinário Ternes, que posa de vestal, como um ser acima do "bem e do mal" (como se ele não tivesse lado na vida política de Jvlle, SC e país), é uma demonstração cabal de sua incapacidade para o diálogo civilizado elementar.

Ele o acusa de "cooptado" pela máquina destruidora do Partido dos Trabalhadores (PT). Torpe, ao acusá-lo por supor que seu salário e condição atual de vida é pago com dinheiro do partido.

O conteúdo é uma cantilena repetida pelos próceres demo-tucanos e dispensa comentário, exceto por duas acusações graves que o Sr. Apolinário poderia provar, de saída, em nome da honestidade intelectual que deveria balizar seus resmungos escritos:

     1) Lula e seus companheiros compõem uma "organização criminosa". Qual o crime e com base em que decisão da Justiça brasileira o Sr. acusa o ex-presidente?

     2) Por que o governo Lula é responsável pela "desconstrução da democracia brasileira"? Confesso que não consegui alcançar essa complexa elaboração...

O resto é ilação pura, bílis ideológica de baixíssima qualidade.

Ao Sr. Apolinário, porta-voz de forças políticas arcaicas de SC, podemos dizer, como Mário Quintana:

     Todos estes que aí estão

     Atravancando o meu caminho,

     Eles passarão.

     Eu

(você, poeta BG)

passarinho!

Abraços fraternos,

Samuca

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Caro Borges

Comentário de Apolinário Ternes à minha Carta aberta, de 18/01/2011, aqui no BGlog.

Caro Borges,

Tentei comentar a carta no seu blog, infelizmente meu texto não saiu lá, como resposta. Então, dou a resposta por aqui e peço a gentileza e o espírito democrático de inserir lá minha resposta.

Borges,

Compreendo perfeitamente sua condição empregatícia e salarial para comentar meus artigos em AN. Não é fácil estar no outro lado do balcão, como já estive também. A situação é sempre incômoda, mas, com ´sensatez e equilíbrio é possível sim defender nossos pontos de vista.

Entendo, pois, sua obrigação em defender o PT e suas cretina ação contra o país que jurou defender com ética para, depois, com cinismo absoluto, se aliar ao que de pior já existiu na política brasileira: Sarney, Barbalho, Renan Calheiros, Collor de Mello. O PT é aliado dessa gente toda!

Durante oito longos anos, nos quais o Brasil surfou nas águas do crescimento mundial, em razão da reforma econômica do Plano Real - que o PT votou contra - e, assim, tivemos crescimento inegável.

O custo político, contudo, exigirá uma geração até que se dissipe o mal que o PT faz à nação, assim como a Joinville.

Não me surpreende a 'sanha' de patrulhamento ideológico que o PT faz em todo o país, tentando desqualificar, como você o fez em relação aos meus artigos - aqueles poucos que não se dobram e denunciam a 'vergonha nenhuma' instalada no país com Lula e seus 'cumpanheiros' da 'organização criminosa' em que se transformaram todos os partidos políticos e, justiça se faça, não apenas o PT.

Enfim, oligarquia é o que PT construiu no país inteiro, com aquela banda podre da política brasileira.

Tudo isso não é surpreendente. Surpreendente é ver um intelectual como você, escritor e professor, funcionário graduado da Fundação Cultural de Joinville, defender tudo isso! Você se apresenta como os 'intelectuais' das décadas de 1930 e 1940, na Europa, que defendiam até a morte a 'revolução bolchevique' na Rússia. São mentes tortas, apequenadas e subnutridas, incapazes de perceber a monstruosidade da ditadura 'stalinista' e as mortes de 30 milhões de russos, naquele tempo. Como agora, vocês o fazem em relação à desconstrução da democracia brasileira.

É o que acontece com grande parte dos 'intelectuais' do Brasil, que se acovardam e tiram proveito pessoal da 'nova ordem revolucionária', especializada no saque da coisa pública.

Borges, muito lamentável constatar que você, apesar da cultura e da informaçao que detém, também é prisioneiro da mesma armadilha de cooptação intelectual no Brasil. Voce certamente entristece a centenas de jovens que respeitavam seu passado de produção e trabalho correto em favor da nossa cultura.

Deus que tê abençoe e ilumine!

Abraço do

Apolinario

domingo, 23 de janeiro de 2011

Arte chinesa: recorte e pintura em papel.

Presentinhos que Regina Rizzolo me trouxe de Beijing há anos e que com grande prazer redescobri neste domingo. Agora posso compartilhar. Virão outros, dia destes.

Paz de fim de tarde


Cantinho remanescente da bela região no interior da baía Babitonga, no recôncavo da foz dos rios Barbosa e Jaguaruna. Ao fundo, a Serra de Barrancos, que emoldura a Vila da Glória...

Um de meus inquilinos

(Ou o inquilino sou eu?)

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Carta aberta.

Escrevi este texto para ser publicado no jornal. Mas, acabou muito longo e não tive paciência para enxugá-lo sem truncar o conteúdo. Aqui, está, portanto, neste espaço de plena liberdade de ideias... e de número de caracteres. ;)

Caro Apolinário

Borges de Garuva

“O fim de um mundo”, diz Alain Touraine, “não é o fim do mundo”. As grandes mudanças paradigmáticas por que tem passado a humanidade não significam tragédias, necessariamente.

Teu artigo “Estado de indigência” (A Notícia, 16/01/2011) parece um grito desesperado de alguém que estivesse ficando para trás, que submergisse inexoravelmente no mar da História, impotente diante das novas forças que se levantaram para redefinir os cenários da vida política, econômica e social. O povo (“subserviente”, como dizes) acabou finalmente decidindo – sem armas, sem violência, assim, meio na base do jeitinho brasileiro – que os rumos tinham de ser outros.

O Brasil, Apolinário, não é diferente de outras nações. Cada qual a seu tempo, elas foram arrancadas – pela força imperiosa do povo (“capado”, como dizes) – da paralisia histórica que as entrevava, para serem vertiginosamente encaixadas nos trilhos da mudança que as transformou para sempre. Foi assim, nos últimos séculos, com a Revolução Francesa e também – por que não? – com a Revolução Bolchevique, que acabou com os czares que vinham mantendo a Rússia 200 anos atrasada em relação aos outros países da Europa. Tem sido assim em muitos países dominados por oligarquias insensatas que mantêm sua gente, por séculos, em estado de escravidão ou de colônia – e que de repente se vêm no mato-sem-cachorro, tendo de abandonar as riquezas ilegitimamente acumuladas e fugir, na calada da noite, com o rabo entre as pernas, para algum paraíso fiscal deste grande mercado em que se transformou o planeta.

Pois, no Brasil, caro historiador, não foi diferente – a não ser pelo estilo: aqui, o povo (“subserviente e capado”, como dizes) foi chegando devagarinho ao poder, foi entendendo que podia, que tinha lá o seu mecanismo de governar por meio de representantes, acatando princípios republicanos e democráticos e, empunhando a arma do voto, elegeu um operário e, agora, uma mulher, que, para infelicidade tua e de teus pares, não pertencem às oligarquias que sempre nos mantiveram subservientes e capados. O resultado foi muitíssimo melhor que o esperado, apesar das más heranças que temos tido de enfrentar (tu mesmo és testemunha: lembras dos tempos das “marolinhas” de que tanto tiraste sarro?).

Por mais que o governo popular não seja aquele sonho revolucionário que alguns desejariam (mesmo porque, ao que parece, já não estamos em tempos de revoluções febris), é, sim, a marca de uma grande mudança de paradigma na história do Brasil: embora não tenham ficado para trás definitivamente, as velhas oligarquias parece que se tornaram repentinamente obsoletas, ainda que seus cantos de cisne moribundo ecoem aqui e acolá, inclusive em vozes como a tua.

Teu texto lembra os discursos da minha juventude, nos bares da vida, em que, já avançada a madrugada, falseávamos estatísticas, conceitos, princípios, datas, fatos históricos e brandíamos acusações furiosas contra tudo e contra todos, com a facilidade irresponsável que a embriaguez nos facultava.

É isto: teu texto é falaz e irresponsável. Desabona inclusive os esforços mais sérios da resistência conservadora contra os avanços inegáveis do governo popular, que só não vê quem não quer... ou que não pode.

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Leia também Histeria apocalíptica

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Um tesouro em minha biblioteca.

Tempos atrás adquiri num sebo de São Paulo um exemplar da edição madrilenha de 1909 do Cantares gallegos, de Rosalía de Castro. A edição é bonita: capa revestida de tecido estampado e papel de boa qualidade (que, em 100 anos, ainda não foi tocado pelos cupins nem pelas traças).
Fiz apenas leituras casuais dos poemas de Rosalía, que já havia conhecido em outras oportunidades.
Somente agora fui realmente prestar atenção ao livrinho que comprara mais por interesse na língua da Galícia (ancestrais da minha família vieram de lá).
Em primeiro lugar, um ex-libris de Manuel A. Ortiz. Quem foi Manuel? Conto depois.
Então, por entre as páginas do pequeno livro, acabei descobrindo 3 recortes de jornais que não tinham jamais aparecido antes porque estavam praticamente colados ao papel do livro. Três recortes emblemáticos de jornais da Galícia, um deles, provavelmente, do "Nós", o outro do "Faro de Vigo" e o terceiro não é possível saber.


[Continua depois do Carnaval ;) ]