Certa vez, Valentino Bompiani inventou como slogan editorial: "Um homem que lê vale por dois." Na verdade, vale por mil. É através da memória vegetal do livro que podemos recordar, junto com nossas brincadeiras de infância, também as de Proust, e entre nossos sonhos da adolescência os de Jim em busca da Ilha do Tesouro; extraímos lições não só dos nossos erros, mas também dos de Pinóquio, ou dos de Aníbal em Cápua; não suspiramos somente pelos nossos amores, mas também pelos da Angélica de Ariosto — ou, se formos mais modestos, pelos da Angélica dos Golon; assimilamos algo da sabedoria de Sólon, sentimos calafrios por certas noites de vento em Santa Helena, e nos repetimos, junto com a fábula que a vovó nos contou, aquela narrada por Sherazade. (A memória vegetal e outros escritos sobre bibliofilia.
Rio, Record, 2010, p. 16.)