Em Sampa, visitei esta semana a exposição José Saramago: a consistência dos sonhos. O título não poderia ser melhor, tanto por ser o escritor quem é, quanto por mostrar, revelando alguns aspectos de sua metodologia de trabalho, que os sonhos dos seus personagens não são resultado de simples exercícios de criatividade, mas de laboriosa pesquisa e rigorosa construção.
A gente já sabia disso, é claro: pessoalmente, leio Saramago desde o dia 12/11/1991, quando adquiri e comecei a ler O evangelho segundo Jesus Cristo. Desde então, li toda a parte da sua obra já publicada no Brasil, exceto A viagem do elefante, recém-adquirido. Tenho entrevistas com ele e sei dele por numerosas fontes.
Mas, estar diante de seus manuscritos e poder observar em numerosas passagens, por baixo dos rabiscos da revisão, a palavra rejeitada, a surpresa que se acrescenta ao texto original, o ajuste fino das sentenças e da pontuação foi, sem dúvida, emocionante.
Não foi exatamente por ser Saramago, mas por se tratar de grande literatura. Já vivi isto outras vezes, especialmente na bela exposição sobre Clarice Lispector, no Museu da Língua Portuguesa. O que me pegou nesta exposição foi a grande identificação política que tenho com os textos de Saramago: o modo peculiar com que vai penetrando, sem psicologismos e sem nenhum traço de romantismo, na vida dos seus personagens.
Embora desejasse que a exposição estivesse recebendo um grande afluxo de público, fiquei satisfeito pelo privilégio de visitá-la na companhia de Robson Benta, Guilhermo Santiago e do meu amigo Euson C. Melo. Assim, cada qual pôde seguir o seu caminho pelos diversos espaços e viver os seus momentos bem particulares com os materiais expostos, entre os quais entrevistas em vídeos, trechos de óperas criadas a partir de seus trabalhos e um emocionante paredão com incontáveis edições de suas obras pelo mundo inteiro.
Foi um sonho. Superconsistente.
A exposição permanecerá aberta de terças a domingos, das 11h às 20h, até 15/02/2009, no Instituto Tomie Ohtake.
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