Chegamos a Manaus ontem à tarde, depois de uma tranquila viagem de Gol. Do avião, sempre em meio a uma poderosa nuvem de névoa seca (fumaça das queimadas), pudemos ver de longe coisas mais ou menos conhecidas por meio de referências, mas sempre distantes: as grandes represas (reconheci a Represa de Privamera, assentamentos, as infindas retas das estradas, partes das chapadas, os pedacinhos que sobram do cerrado, os campos do Mato Grosso do Sul, e Campo Grande e Cuiabá (onde paramos), além da eterna colcha de retalhos dos campos cultivados (praticamente nada mais resta sem intervenção humana até bem depois de sairmos de Porto Velho, cruzando o rio Madeira e sobrevoando a(s) BR(s) 174(319), que atravessa o verdejume quase negro da floresta. A maior emoção foi ver ao longe o Solimões que se aproximava e quase não cabia nos olhos de tão grande. Mas, nada como ver, logo depois, a enormidade do rio Negro!
Primeiro ritual para marcar a chegada em Manaus: jantar pirarucu grelhado na frente do Teatro Amazonas e, depois, ir ao Teatro para ver a terceira apresentação gratuita para a cidade da produção recente da Orquestra de Violões de Manaus, acompanhada do Coral e do Ballet Experimental do Teatro Amazonas.
O espetáculo é bem singelo, mas bonito. Para mim, um momento fascinante: sentar-me diante do palco onde Fitzcarraldo pôde assistir à última cena de Lucia de Lamermoor (se bem lembro), após convencer o porteiro (interpretado por Milton Nascimento) a deixá-lo entrar atrasado no TA. Mais marcante por se tratar de um espetáculo com música produzida em Manaus e falando da Amazônia!
Agora, da sacada do hotel, ouvindo um sambinha executado por um senhor baiano-carioca de muito boas maneiras (encarnação de Caymi misturado com Vinicius de Moraes), contemplo ao longe o encontro nascimento do Amazonas a partir do encontro Solimões com o Negro. 40 graus. Sol a pino. Cá estou, portanto, no meu destino. Por quatro dias.