segunda-feira, 4 de março de 2013

Um conto meu, novinho em folha.

O cara que perdeu as asas

(Borges de Garuva)

Soube de um cara que, um dia, ao despertar, constatou que duas pequenas asas lhe haviam nascido sobre as omoplatas. Pior: em poucos minutos, notou também que elas cresciam a olhos vistos.

Irritado e incapaz de aparecer assim perante os chefes e os colegas de trabalho, decidiu procurar imediatamente uma solução, e se pôs, desesperado, a vasculhar na internet alguma substância própria para remoção de asas.

Reunindo depois os ingredientes requeridos, produziu uma pomada que, diligente e trabalhosamente, passou a aplicar várias vezes ao dia sobre os pedúnculos dos indesejados apêndices.

Certa manhã, constatando que as asas haviam caído, embrulhou-as num grande saco plástico, que despachou na coleta matinal do lixo urbano.

Então, lhe ocorreu que, nem por um único segundo, se dera ao trabalho de experimentar se as asas lhe poderiam ser úteis para voar! E, contemplando no céu azul a revoada tranquila dos urubus, pôs-se desconsolado a chorar, sentindo-se irremediavelmente mutilado.

3 comentários:

Marisa Toledo disse...

Amei! É um caso verídico? Bj com afeto.

Borges de Garuva disse...

Marisa, é verídico em muitos aspectos... e, infelizmente, com muita frequência ;)

Léla disse...

Gostei da linguagem. Ilustra muito bem algumas situações que a vida nos apresenta e que deixamos passar, por inúmeros motivos. Bjs.