De 1992 a 2006 trabalhei como designer e programador da Rede Bonja (o provedor interno do Instituto Bom Jesus/Ielusc), que ajudei a criar, juntamente com Andrey Allage e uma série de colaboradores que, mais tarde, foram reunidos no Setor de Comunicação e Recursos Digitais, o Secord.
Em 1998, o professor Edelberto Behs, coordenador do Curso de Comunicação Social solicitou-me a criação de um espaço para que um grupo de alunos bolsistas pudesse exercitar o jornalismo digital, criando e publicando matérias sobre a vida cultural da cidade. Sérgio Murillo, então nosso professor, seria o coordenador do projeto.
Idealizei uma estrutura a que dei o nome de REVIsta Virtual, que depois veio a ser a Revista eletrônica do Curso de Comunicação Social, que está prestes a comemorar, portanto, 10 anos e que vem se consolidando como um espaço para o exercício do webjornalismo e da leitura crítica da comunicação.
Mesmo tendo deixado a Rede Bonja em 2006, a Revi continua sendo um projeto que me fascina e para o qual, se pudesse, daria minha permanente colaboração. Mas, o que posso, no máximo, é fazer aqui e ali pequenas manutenções no sistema e torcer para que, adotando uma nova tecnologia de publicação, o veículo não se reduza apenas a um bloguezinho de opiniões achísticas, tal como tantos que borbulham profusamente por aí e que se consideram diferentes.
Recentemente, a Revi foi depredada por alguém familiarizado com o sistema de publicação, o que me levou a trabalhar com os scripts para inserir alguns dispositivos de segurança. Ao manipular as rotinas, comecei a perceber o quanto havia investido de dedicação em pesquisa, em planejamento das ferramentas, em tratamento das propostas que os diversos professores e bolsistas da Revista me apresentaram ao longo dos anos entre 2003 (quando assumi o projeto tecnológico da Revi) e 2006, quando saí do Secord.
Pensei, então, em escrever um pequeno ensaio sobre o projeto, procurando historiar o desenvolvimento tecnológico da Revi. O ensaio se encontra agora relativamente adiantado e vou pincelando aqui algumas das idéias que já reparti com pessoas ligadas ao projeto - professores e estudantes.
Além da memória e dos meus apontamentos pessoais, estou utilizando para a elaboração deste texto os documentos que tenho armazenados. Trata-se de um acervo que vem crescendo desde a primeira forma da Revi. A partir de 2002, adotei a prática de guardar também as matérias publicadas: são 4.824 títulos distintos só de 2003 para cá - um acervo que registra aspectos importantes da história do Instituto e (por que não?) da cidade.)
O sistema de gerenciamento de matérias da Revi - que designei como Sigmat - nasceu de uma colaboração pessoal minha para o Curso de Comunicação Social. O que era para ser apenas um diretório em que o grupo pudesse depositar os seus arquivos, virou já em 1998 uma publicação, com campos automáticos, tickers, editorias distintas etc. Na época, era tudo HTML e Javascript, apenas. Quando conheci mais de perto a dobradinha PHP/MySQL eu já dominava as Cascading Style Sheets e estava de olho na XML. Abriu-se então o caminho para o Sigmat, que foi construído durante os anos de 2003 a 2006 e que vou deixar definitivamente incompleto por não ter mais disponibilidade para a programação.
Passei dias e noites - até madrugadas (a maior parte fora do expediente, nos fins de semana, na casa de praia em tempo de férias, porque não podia interromper as outras atividades do Secord) - trabalhando nos cerca de 400 arquivos de rotinas e nas suas quase 8.000 de linhas de código necessárias para exibir telas, processar registros e gerenciar o banco de dados da publicação, que compreende 164 campos.
Naquela época, não pensei demasiadamente em segurança, porque estava criando uma ferramenta provisória para o exercício do jornalismo digital (tanto quanto possível dentro dos princípios do webjornalismo, que estava nascendo e que pesquisei bastante) - e uma ferramenta que deveria ser usada, experimentada e desenvolvida por estudantes e professores, no âmbito da produção acadêmica. (Não pensei, então, em vândalos e invasores, mas tudo bem, agora.)
Meu sistema, que foi construído meio "a machado", porque veio sendo elaborado ao longo do processo, com a Revi sempre on line, está destinado desde 2006 a retirar-se para dar lugar a um outro mais ágil, mais seguro, mais robusto, mais juvenil, assim que apareça alguém no grupo da Revi interessado também pelas tecnologias de armazenamento, processamento, indexação, resgate e exibição dos conteúdos digitais e por práticas mais avançadas do webjornalismo.
Os grandes jornais que conheço e que tenho freqüentado ocasionalmente desde os meus primeiros momentos no modo gráfico da internet (lá por 1995) - A Notícia, Le Monde, La Nación, Folha, New York Times, El Espectador -, são todos praticamente a mesma coisa, sempre: uma tela com um timbre, alguns menus em cima, à esquerda e/ou à direita, e áreas (ou quadrantes ou editorias) em que aparecem - sempre em dimensões, cores e efeitos padronizados e selecionáveis a partir do dispositivio de editoração - os leads das matérias e uma que outra foto. A diagramação é radicalmente automática. Os editores geralmente determinam apenas o status que a matéria deve ter, porque, segundo seu status, a matéria vai automaticamente aparecer, com um certo tratamento visual, numa região ou noutra da capa do jornal (capa, aqui, usada como o home ou "casa" no home page do inglês).
Claro, existe também um jornalismo digital mais plástico, mais artístico, que tem produzido obras incríveis. Mas, então já se trata de criações de gente ligada à publicidade ou às artes visuais e que são em geral trabalhos autorais, pesados, que requerem quase sempre tecnologias proprietárias e bandas cada vez mais largas para sua operacionalização.
Mas, o debate sobre o que seja ou não o webjornalismo e suas práticas e possibilidades já é assunto do Curso de Comunicação Social e do próprio grupo da Revi, que vem aos poucos experimentando possibilidades e desenhando na prática uma história que está sendo escrita também em todos os outros veículos digitais do planeta.
O meu artigo focará apenas o suporte digital da Revi e sua evolução a partir de possibilidades tecnológicas e de demandas apresentadas pelos diversos grupos de professoes e bolsistas que por ela passaram desde 1998. Tal suporte (constituído basicamente por um alimentador de matérias ou de conteúdos e um diagramador de capas), permite a decupagem dos conteúdos em elementos que podem ser armazenados separadamente de suas propriedades visuais - princípio dos documentos inteligentes e portáveis, cuja implementação tem sido possível pela combinação de tecnologias como a HTML, o JavaScript, a XML, o CSSL, o PHP, o MySQL e uma série de outras - todas abertas, públicas, genéricas e fruto de criação coletiva1.
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(1) Visite a base do W3C (The World Wide Web Consortium), em http://www.w3.org/.