sábado, 9 de agosto de 2008

Antes e depois do Renato Russo
de Bruce Gomlevsky.

 

Vi ontem, no Teatro Juarez Machado, Renato Russo, a peça, com Bruce Gomlevsky. Texto inspirado no livro O Trovador Solitário, de Arthur Delpieve, com dramaturgia de Daniela Pereira de Carvalho e direção de Mauro Mendonça Filho. Ao longo do monólogo, Bruce canta Renato competentemente acompanhado pela banda carioca Arte Profana. O espetáculo veio para Joinville pela Studio Escola de Atores - produção de Luciano Cavichiolli e Fernanda Moreira.

 

08/08/08 08:58pm. JM.
ANTES

Sempre há um lugar onde se pode escrever algo. Tenho agora apenas este bilhete de Renato Russo, a peça, que vai começar daqui a pouquinho, aqui no JM.

Pensava agorinha, olhando as pessoas que entravam (quando chegamos muito cedo ao teatro, dá nisto): não envelhecemos; antes, murchamos ou inchamos, tanto na cara quanto nas idéias.

Saí há pouco da comemoração dos 10 anos do curso de Comunicação Social do Bom Jesus/Ielusc e confesso: as idéias que nos moviam outrora eram menos academicamente fundamentadas, mas eram vitais e apaixonadas. Agora parecemos todos mais profissionais, mais determinados e o que dizíamos no início dos anos 90 soa ingênuo.

Porém, não posso deixar de comparar meus colegas de agora com os daquele tempo - e a sensação é a mesma de quando me confronto com aquelas já sépias fotos que andam rolando por minhas pastas e gavetas: ando mais inchado e franzido nas medidas do corpo e das idéias... mas muito mais seguro.

08/08/08 23:48pm. Em casa.
DEPOIS

A arte, como as drogas, serve para que criemos coragem diante das paredes prosaicas do cotidiano, que nos circuscrevem ao tédio biológico-econômico de nascer, reproduzir, trabalhar e morrer.

Quando era garoto, tinha uns tios e muitos colegas estúpidos (coitados, não tinham culpa) que me diziam: "Livros? Para quê? Livros e filmes fazem a gente se encher de ilusões."

E não é que acertavam na mosca, os putos?! Hoje vejo que devo ficar fulo da cara é comigo mesmo: por não ter dado ouvidos ao que diziam. Eu me indignava com eles e ia para a cama sempre com uma pontinha de dúvida quanto aos benefícios das minhas leituras e da grande presença do cinema na minha vida - e corria feliz, no dia seguinte, para bater o cartão ponto no meu emprego seguro e chato, mas real, concretíssimo!

Se tivesse prestado mais atenção a essa merda que diziam, hoje eu seria de verdade um produtivo escritor ou um cineasta. Teria empregado todo o meu tempo útil na leitura e no estudo do cinema, pois a formação profissional do artista se dá na infância e na juventude, quando ele consegue obter melhores resultados no adestramento do olhar, das mãos, da paciência, da disciplina, da lábia e do ímpeto necessários para arrancar do barro da vida uns adões-e-evas.

Pois... eu vacilei porque dei ouvidos à gente "normal" que me cercava. Perdi muito tempo desvencilhando-me dos sonhos.

Só porque homens e mulheres, amedrontados ante a idéia da morte solitária, põem-se a montar bases domésticas e a fazer filhos para que cuidem deles na velhice, somos todos obrigados a fazer o mesmo?

Bem, procriar e viver em grupos pra afugentar o medo é coisa de gente, do bicho humano. Mas, sonhar, também. Nietzsche, também. Renato...

Eu não temo a solidão: embora tenha medo do futuro, sei de certeza que o futuro não é já. E, quando for, terei tempo e razão pruns lamentinhos - que talvez minimizem aquele previsível tédio de já não ter mais como interferir em porra nenhuma no mundo dos vivos.

 

09/08/08 14:38pm. Enquanto o almoço começa a cheirar...
DAY AFTER

Eu trazia comigo uma grande frustração por não haver conhecido pessoalmente Renato Russo - nem mesmo num show. Fui por duas vezes a São Paulo para, através de amigos, chegar até ele com umas letras que havia escrito pensando na sua voz e no jeito de cantar. (Claro, meu bom senso impediu-me de cumprir a idéia ingênua, sobretudo depois que descobri que ele prometera jamais botar os pés em Santa Catarina. Falava sério, será...?)

Pois bem, o trovador solitário voltou. Eu nem conheço Bruno Gomlevsky. O que vi no palco do JM foi uma performance do autêntico Renato Russo, que, vivinho-da-silva, resolveu enfim visitar nosso estado pra matar minha saudade.

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