Em Joinville, SC, uma criança foi morta (ou morreu por acidente?) dentro de um templo da Igreja Adventista do Sétimo Dia, durante uma função. Apesar de todas as dúvidas que pairam sobre o crime, o acusado - um servente de pedreiro que algumas vezes chegou a parecer um bode expiatório sacrificado no lugar de alguém - foi julgado num tribunal quase festivo - espetacularizado pela imprensa - e condenado a 20 anos de prisão.
Eu não acompanhei a história, mas há indícios de que ele teria, na época, confessado o crime sob tortura e de que, ao contrário do que propunha a acusação, a criança não teria sido seviciada.
O fato é que, agora, ele está recluso e não pode recorrer.
Pois bem: não é terror bastante ter o rapaz acusado de matar Grabrielli de passar os próximos 20 anos de sua vida na cadeia? Não é punição suficiente perder a liberdade e ter a cidadania travada por duas décadas?
Segundo a mãe da menina - que deve ser adventista -, não! Pelo crime, a pena foi pequena, disse. É o que Jefferson Saavedra pinçou dos depoimentos dela e estampou na coluna AN.portal, à p. 2 de A notícia (se você for dotado de paciência digital, visite o blog dele em an.com.br / domingo, 17/08/2008).
Ora, a declaração da mãe da menina é típica de uma imensa parcela dos cristãos. Reflete ódio e vingança e parece desejar a pena de morte para o criminoso, bem ao contrário da proposta evangélica de oferecer a outra face e, sobretudo, de perdoar.
Claaaro, precisamos compreender que ela está com o coração ferido pelo desaparecimento brutal da sua criança, mas, isto não deveria anular o seu bom senso, nem o nosso. O que nos distingue dos criminosos em geral é que, diante dos reveses da vida, tentamos manter a lucidez em vez de sairmos trucidando todo mundo.
Mas, ela não tem culpa. A culpa é de uma certa tradição político-religiosa que vem acompanhando o cristianismo ao longo de sua história e dele não pode ser ainda inteiramente separada: a tradição do olho-por-olho e do dente-por-dente, modo jurídico que regulava as tribos da Mesopotâmia e que, desde que Israel declarou-se o povo eleito de Deus (haja prepotência!), passou a difundir-se com ele para o oriente próximo e depois, com o movimento cristão, para a Europa.
Mas, quantos dois-mil anos mais serão necessários para que a doutrina cristã seja realmente compreendida e praticada - não na forma reguladora e burra como a maior parte dos fanáticos e fundamentalistas quer, mas segundo a proposta lúcida e generosa que a caracteriza nas origens?
Bem, eu não tenho muita certeza de que isto venha a ocorrer. Ao contrário, como se pode ver tanto no mundo cristão quanto no islâmico, um fundamentalismo furioso e bárbaro parece alçar-se como modelo de religiosidade - contra todo o empenho civilizatório dos últimos séculos da nossa história.
Sei lá...
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