À medida que as eleições se aproximam, as conversas vão esquentando em torno das candidaturas e das perspectivas do futuro governante do município. Não tenho tido tempo, até agora, para argumentar. Mas, vasculhando minhas pastas, selecionei alguns textos que podem contribuir para o debate. Vou publicá-los aos poucos aqui no BGlog, entre uma que outra postagem.
Histeria apocalíptica
Borges de Garuva
(escrito para o jornal A Notícia, em 29/07/2007)
O texto de Apolinário Ternes (O país do apagão, 29/7/07, em A Notícia,) reflete um descontentamento raivoso para com o governo que ajudei a eleger.
Como o irônico Celso Rangel (O PT é nossa salvação – idem, ibidem), gostaria que, no governo, o PT pudesse pôr seus sonhos em prática. Mas, só ingênuos imaginariam que a proposta do PT ganhasse as eleições ou que pudessem seus eleitos governar para além de uns meses. O PT precisou vencer dois obstáculos: por um lado, o medo do comunismo (que as elites alimentaram durante o século passado, assessoradas por governos e igrejas a seu serviço) e, por outro, o terror dos abastados de perder o monopólio do lucro. Esses obstáculos se expressavam de duas maneiras notórias: o risco Brasil e a tal incapacidade de Lula para o governo.
Para isto, a corrente majoritária do PT abriu-se, estrategicamente, às parcerias e, ao longo de três campanhas, o candidato “ignorante” tornou-se um diplomata. Coligado com um representante respeitado do empresariado nacional, conseguiu com facilidade histórica chegar ao poder.
Não era precisamente o governo com que sonhávamos, mas continua sendo a opção mais próxima. Desviou o foco das minorias abastadas e, procurando um crescimento menos vertiginoso mas mais sustentável, curou alguns dos nossos males crônicos, dando acesso à cidadania para porções mais amplas da população.
Caos? Em que momento de nossa história não houve caos? Em que momento não estivemos perto de algum apagão? Com os militares – é isto que querem dizer?
Parece que uma histeria coletiva tomou posse de um certo segmento da população, alimentada por Globos, Vejas, Estadões, Folhas etc. Uma histeria doida, que parece cegar os analistas conservadores. Uma histeria que (tiro pela culatra) vem aos poucos convertendo em heróis mesmo aqueles que mereceriam críticas por sua incompetência ou punição por seus crimes contra o patrimônio público.
Apagão? Ora, infra-estrutura não é só logística e energia. Há 20 ou 30 anos, investiu-se na tal da infra, sim, mas em detrimento de outros setores básicos, cujo colapso gerou um país complicado de se governar. Pois esses investimentos, beneficiavam segmentos que já detinham o poder econômico e queriam ampliar seus lucros.
De reivindicações assim nasceu o projeto de revitalização dos terminais aeroportuários, por exemplo: seus usuários exigiam conforto. E o número e o tamanho das pistas tiveram de permanecer os mesmos, já que o orçamento público não pode satisfazer a todas as demandas de um único setor.
Para conter exigências assim, o governo precisa de autoridade. Também precisa de autoridade para controlar a economia dos lobos, cujo desejo é sempre, como dizia Norberto Bobbio, viverem livres entre suas apetitosas ovelhinhas. A arrecadação cresceu? Óbvio. Ela possibilita investimentos na infra-estrutura física e social: impostos são uma forma de repartir a riqueza (gerada sempre com recursos da coletividade – matéria prima, energia, mão de obra e know-how), distribuindo-a um pouquinho para todos os companheiros, isto é, para o brasileiros.
Caos? Caos era antes. Agora temos um projeto de governo popular – frágil, sabemos, carecendo de ajustes, de mais coragem para vencer os obstáculos da história nacional e os empecilhos que os privilegiados criam à sua efetivação e de ágil lucidez para desmontar a máquina midiática que o ameaça. Mas, o projeto existe e está sendo implementado. Seus efeitos se fazem sentir no “cansaço” das elites, que agora resolveram botar-se histericamente em passeata pelas ruas, convocadas pelo dondoca João Dória Júnior, apoiador do Alckmin.
Neste projeto, que não é do PT mas de um conjunto de partidos, abrem-se espaços efetivos para que os cidadãos generosos possam trabalhar pela coletividade e não apenas por seus próprios interesses. Pois os interesses de cada um devem inspirar-se no interesse de todos.
Não: nosso tempo não é de apocalipse, mas de gênese.
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