Saudades de mim
Borges de Garuva
Quanta vez tenho saudade de mim mesma,
do que fui, do que senti,
de certos cheiros que os ventos das estações traziam
– as manhãs limpinhas dos invernos,
– o brilho gostoso das tardes do outono,
– o rastro da lua nos mares do verão,
– esses cheiros e ventos que a primavera esbanja.
Cada vez uma saudade se guardou aqui:
um cheiro, um som, um raio de luz, um gesto,
aquela palavra dita num preciso tom de voz,
um não, um sim...
adeus...
meu bem...
Sou, portanto,
inteiramente,
lembranças
de quando chorei, de quando cantei,
de quando disse "meu filho", certo dia,
e um grande sorriso se abriu para os meus olhos...
Quando sinto saudade de mim,
do que fui,
do que vivi,
respiro fundo,
olho melhor à minha volta,
olho dentro dos olhos das coisas,
observo este preciso instante que estou vivendo,
atenta para o que se passa em mim.
Porque sei que no futuro vou sentir
saudade
do que sou
agora
Nenhum comentário:
Postar um comentário